
Hoje minha cabeça está ecoando.
Verdadeiramente acredito que a vida de todo mundo tem um tema. Sério, acho que tem gente que o tema da vida é o trabalho, outros que é o dinheiro, outros o reconhecimento, outros o prazer e outros, no caso eu, a maternidade.
Outro dia li um texto do Winnicott que falava isso. Dizia que, se uma pessoa vivesse o bastante, seria capaz de ver em toda a sua tragetória o tema de sua vida, uma motivação que apareceria na sua vida pessoal e também na profissional.
Assim, acredito que a minha motivação é a maternidade. AMO esse tema, e vivo ele desde sempre.
Não é de se surpreender que esse tema me dê muito trabalho, dele saem minhas grandes alegrias, mas também minhas dores profundas. Então, se eu estou em terapia, falo sobre ele 95% do tempo.
Acontece que acho tão dificil me sentir compreendida pela psicologia quando se trata das minhas escolhas como mãe. E hoje tive um dia verdadeiramente difícil na terapia.
Tenho sido acompanhada por uma terapeuta maravilhosa há uns 7 anos, mas desde que minha filha nasceu, a terapia parou de fluir. Tenho achado muita dificuldde em dividir meus questionamentos como mãe, muito disso acho que se deve ao fato de fazer escolhas tão diferentes do padrão, porém também venho pensando muito em como a psicologia, que eu conheço, me parece tão antiquada quando fala sobre maternidade.
Então hoje, no meio da minha sessão, percebi o quanto eu e a psicologia estamos distantes.
Estava comentando sobre minha tentativa de desmame noturno e sobre o fato de Malu ter tido febre neste momento. Comecei então a ser indaga pelo fato de ainda amamentar minha filha, escutava perguntas como : "Será que você não está é de saco cheio de amamentar e não quer parar logo, mas não quer assumir isso?", "Será que ela realmente precisa mamar?", "Mas qual valor nutricional o leite ainda tem para ela?", "Mas a alimentação sólida dela já não é o suficiente, para quê continuar amamentando?" "Ela já tem 1 ano e meio, para quê continuar isso?"...... E por ai vai, a cada resposta minha, mais um questionamento era levantado, porém, eram sempre questionmentos negativos, que levavam a um caminho no qual eu deveria aceitar o desmame como solução.
As minhas respostas eram : Que eu gostaria de tirar o mamá da madrugada porque me cansa, mas as outras mamadas não me incomodam e eu não sinto vontade de tirar, se ela vai desmamar completamente se eu tirar o mamá da madrugada, ok, mas se ela não desmamar, ok também, esta ainda não é uma questão para mim. E sim, eu acredito que o leite materno ainda tem muita importância para ela, tanto nutritiva como emocionalmente e, se ela ainda quer mamar e eu estou disposta a dar, que mal pode haver????
Depois de me sentir num tribunal da inquisição pelo simples fato de desejar amamentar minha filha de 1 ano e meio no meu seio, tentei mudar o assunto falando que a amamentação não era, para mim, uma questão que eu precisasse tratar em terapia, pois estavamos bem e não me causava mal estar pensar em amamentar ainda e muito menos se a Malu parasse de mamar por desejo próprio. Porém, abri minha grande boca e falei que o fato de não conseguir deixar Malu dormindo sozinha em outro quarto durante a noite toda era sim uma questão na qual eu me sentia implicada emocionalmente.
Pronto.... ai o mundo caiu!!!
Como que minha filha, com 1 ano e meio, não dormia sozinha em outro quarto????? Ain!!! Porque eu fui falar sobre isso?????!!!! Poxa, eu estava em terapia com essa pessoa há 7 anos, tinha sido tão importante para mim, não pensei que ser verdadeira fosse causar uma crise na minha terapia.
Fui sincera e falei que me tranquilizava o fato de sentí-la fisicamente ao meu lado durante a noite e que, ao mesmo tempo, me batia uma paranóia muito louca de que, se ela ficasse sozinha no quarto dela, ela ficaria vulnerável, algo ruim podia acontecer. Gente é sério!!! Juro que penso que alguém pode entrar aqui em casa e roubar meu bebê (não que eu racionalmente ache isso lá muito viável), sei que é loucura, viagem total, mas afinal eu estava falando isso para minha terapeuta, então é porque eu sabia que isso era piração, se eu achasse que isso era fato eu falava nos jornais, certo?
Ai é que o tempo fechou.
Ela começou a me questionar dizendo que minha filha estava fazendo o papel de minha mãe, pois estava "tendo que dormir comigo" (coitada da minha filha, ela deve detestar mesmo dormir com a mamãe aqui) para me deixar segura durante a noite. Falou que eu estava sendo paranóica e prejudicando minha filha, pois ela ia ficar paranóica também, que nunca ouviu falar em mães que tivessem essa questão, que pensar que alguém podia entrar na minha casa não era normal.
Quando eu tentei ponderar que muitos estudos antropológicos falam sobre os mamíferos dormirem junto com seus filhotes, ela ironizou e disse que não somos macacas!!!! Nossa, que raiva!!!!!!!! Eu falei que não somos macacas, óbvio, mas que esse comportamento era presente nos homens primatas e ainda é em muitas culturas e que o fato de não sermos macacas não nega nossa "mamiferidade" (acabei de inventar, não sei como colocar isso em outro termo).
Bom, o fato é que ela disse que eu estava submetendo minha filha à minha paranóia. Mas sabe, isso eu não posso negar!! Como mãe eu submeto minha filha a muita coisa (ou quase tudo?) pois ela ainda é um bebê. Eu decido como ela vai ser educada, o que ela come, quando, com quem se relaciona, se vai para a escola, se vai ao médico, se toma ou não a vacina H1N1.... E, também, eu submeto ela aos meus defeitos. Sou humana antes de ser mãe, sou um poço fundo de defeitos. Claro que almejo a perfeição, que mãe não faz tudo para ser perfeita e sofre com toneladas de culpa por não atingir o inatingível? Nunca ouvi uma mãe falar: " Sabe, meu filho gosta muito de banana, por isso que eu só dou abacaxi, afinal, ele tem que aprender que eu não sou perfeita!".
Eu almejo sim a perfeição e me frustro para caramba, mesmo sabendo que ela é inalcançável. Acho que é por isso que gosto tanto de Winnicott, por que a gente precisa mesmo escutar muitas vezes que nossas falhas são fundamentais para o desenvolvimento saldável dos nossos filhos e que, por mais que façamos, sempre seremos SUFICIENTEMENTE boas, nunca perfeitas!
Acho que é por isso que muitas mães fogem da terapia, algumas tentam pôr seus filhos, de 4, 5 anos em terapia, mas elas mesmas, correm como o diabo da cruz. Hoje eu entendo , afinal, hoje também sou mãe.
A psicologia tradicional vem com todo aquele ar de boa moça para cima da gente, cheia de respeito às diversidades, borbulhando em empatia, mas será que a realidade é essa? No mesmo tempo em que nos mostram que não existe mãe perfeita, mas sim a "Mãe suficientemente boa", ela nos cobra perfeição. Quantas vezes não escutamos prescrições de que devemos amamentar, pois se não amamentamos podemos causar danos nos nossos filhos, mas não muito, pois o bebê vira dependente da mãe e isso não é bom; que cada um precisa ter o seu espaço, a sua individualidade preservada e o bebê deve dormir no quarto; que as mães devem desde sempre dar limites aos seus filhos e tantas outras prescrições...
Vejam bem, não estou dizendo que isso ai em cima é errado, mas também não acho que seja O certo, caramba!
Qual o problema se você acha que seu filho não precisa ir à escola até os 3 anos?? E qual o problema se você acha que 6 meses de licença maternidade é muito e deseja voltar a trabalha quando seu bebê tem 3 meses?
O que é melhor, deixar com babá, ou por na escola? Deixar dormir na cama, ou no berço? Dar chupeta ou deixar chupar o dedo?
Putz, NÃO TEM RECEITA!!!!!!!!!!!!! Nada na maternidade tem receita e todas as escolhas que tomamos fala sobre quem somos, sobre nós, que apesar de tudo, somos AS MÃES!!!!!
Se o fato de eu ser paranóica faz com que eu submeta minha filha à minha paranóia e ela permaneça dormindo na minha cama por enquanto, será que eu estou sendo tão perversa assim??? Será que ela não pode estar curtindo também dormir aqui, com os pais?
Depois minha terapeuta diz que eu é quem estou tentando ser perfeita!!