segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os bebês indianos e a "vaquinha" !

Bom, depois de juntar os meus cacos após o último post, estou aqui novamente!! (eu ouvi um EBA! por ai? Hein, hein?)

Ontem aproveitei que a baixinha dormiu cedo e fui estudar um pouco, o Dani também foi dormir e eu deixei a TV ligada, pois só Deus sabe a sensação de liberdade de uma mãe ao poder escolher o que quer assistir na TV - e estar acordada para compreender o que se passa.

Sabe como é, domingo à noite, nada de bom passando... até que Tcharam!!!! Começou um Documentário no GNT. Eu AMO documentário e, para melhorar, era sobre maternidade, não tive como me conter e fui assistir.

Era um documentário sobre barrigas de aluguel na Índia.

A pouco tempo havia rolado numa lista que participo uma discussão sobre barrigas de aluguel, muitas mulheres falaram que aceitariam sem pensar duas vezes gerar um bebê de alguém, que achariam maravilhoso parir por si só, sem ter o bebê no final. Eu, que nunca havia pensado muito no assunto resolvi assistir.

O documentário era de 2009, SUPER ATUAL!!!

A história que ele contava era a seguinte: A Índia anda despontando como "mercado de bebês" devido ao baixo custo de, digamos, produção e a legislações que facilitavam todos os tramites para o registro dos bebês.

O documentário mostrava que com apenas 20 mil dollares era possível "produzir" um bebê na Índia. Segundo eles, nos EUA o custo de uma barriga de aluguel não sairia por menos de 150 mil dollares!!!!!!! Por isso, a Índia estava sendo procurada por Americanos, Europeu, Japoneses e, inclusive, Indianos.

Os futuros pais entram em contato pela internet com a clínica, que seleciona a mãe que irá gestar o seu bebê (existe a opção de usar um óvulo doado ou da "compradora"). Você vai até à Índia, recolhe seu esperma e óvulo, faz a fecundação in vitro e implanta na caixa de correio, digo, no útero "alugado". A partir dai a vida continua. Os pais biológicos voltam para suas vidas e o "útero alugado" tem a opção de morar num albergue de "úteros alugados" para que a comunidade não saiba que a mulher está gerando um bebê que não é dela e não seja tratada como uma prostituta.

Enquanto moram no albergue, os "úteros alugados" dormem em quartos compartilhados com o mínimo de higiene básica, e recebe 20 dollares por mês!!!! Se tudo der certo e o "útero alugado" conseguir gestar um bebezinho que sobreviva, recebe 5 mil dollares. Porém.... se o "útero alugado" perder seu inquilino antes da hora e ele não sobreviver, ou se o "útero alugado" sucumbir e falecer, nada de 5 mil dollares galera!

E então, a compradora, digo, a mãe biológica, se tudo der certo, é indagada sobre qual dia ela quer que o filho nasça e então é feita a cesariana.

À dona do négocio resta lucrar em cima da miséria alheia, alegando que "ter filhos é o papel da mulher na sociedade e o que estas mães fazem é possibilitar que o milagre da maternidade alcance àquelas que não podem gestar seus bebês. Que elas se sentem realizadas por poderem ajudar outras mulheres e que o dinheiro irá mudar a vida delas ( o que deve ser verdade em se tratando de miséria absoluta)."

Ao "útero alugado" resta chorar a dor do filho perdido, a vergonha de ter se vendido por dinheiro, a geladeira cheia por um ano (àquelas que tem geladeira, claro) a recuperação dolorosa da cesárea, o seio estourando de leite e o vazio no peito.

À compradora resta um lindo bebê rosado e de olhos azuis gerado por uma indiana. Resta a felicidade pela chegada do filho e as indagações (daquelas minimamente conscientes) sobre como lidar com esta história.

E ao produto, o que lhe resta? Imagina passar todo o seu desenvolvimento escutando alguém falar com você com uma língua, sentindo aqueles sentimentos, saboreando aquelas comidas, cantando e dançando naquela cultura e de repente.... Plin! Tudo muda.

A exploração da pobreza nos leva a extremos.

A Mãe Norte Americana que aparece no documentário usava um sling que custou mais do que o que foi gasto para manter o útero que gestou seu próprio filho. Será que ela sabe disso? Será que ela se importa com isso? Será que esses míseros 20 dollares eram suficientes para gestar seu filho com saúde, com uma boa nutrição?

Havia também um certo estátus dentro do albergue de "úteros". Tinham aquelas que gestavam bebês Europeus, e aquelas que gestavam bebês Indianos. Haviam aquelas que viviam disso, e a que usou o dinheiro para comprar um taxi para o marido, que hoje já tem dois e mudou o futuro da familia.

Fiquei me questionando, qual será a língua materna desse bebê? Quem será sua figura de mãe? Quais serão as experiências que ele reconhecerá como acolhedoras? Qual a energia que o gerou? Como se sentiu esse "útero alugado", e que emoções esse bebê recebeu?

E ai comecei a pensar no que valorizamos hoje como maternidade. Será que valhe tudo para termos um bebê com nossa carga genética? Será que o dinheiro pode comprar tudo, inclusive a maternidade? Será que valhe tudo para nos sentirmos mães? Será que o estado de miséria permite tudo, e que qualquer negócio é jogo para aquele que nada tem?

E ai lembrei da Bruxa do 71, ou melhor, da promotora que estava em processo de adoção da menina de 2 anos. Imagino o que pensou cada um dos responsáveis pela autorização de adoção da menina, algo como: Essa menina ganhou a sorte grande, será adotada por uma promotora que mora em Ipanema, poderá conviver com alguém que minimamente valorizou os estudos, tem condições financeiras para manter a menina muito bem... Sei lá, posso imaginar mil motivos que os fizeram pensar que aquilo era sorte grande. E então acontece o que aconteceu....

De novo a miséria foi explorada, a menina pobre seria a nova Cinderella, nas mãos da madrasta má.

6 comentários:

Nanda disse...

Eu não teria condições de assistir a esse documentário até o final, a indignação não me permitiria.

Você falou tudo que eu penso no post. Tudo. Só faltou esculhambar um pouco mais a questão da "entrega" do bebê ser feita por cesariana.

E olha, vou te contar. Eu tenho uma teoria de que essas "inovações tecnológicas" são as maiores causadoras do câncer e outras doenças degenerativas na população atual. Claro que não tenho nenhum embasamento científico pra afirmar isso, é achismo de porralouquice. Mas penso que um bebê gerado por inseminação artificial jamais será tão saudável quanto um gerado pela coisa-na-coisa (e ninguém se diverte, também). Ele foi forçadamente concebido e forçadamente nascido, tadico desse bebê. ):

Camila disse...

Nossa, não acredito que perdi um documentário desses! Fiquei chocada com o q vc contou no post. A verdade é q as pessoas acabam perdendo a cabeça para ter um filho, fico impressionada. Falta limites sérios e rígidos, independente de inovações tecnológicas e outras alternativas para a maternidade.
Se vc souber de reprise do programa, avisa a gente! E vai lá me visitar quando puder!
Bjos,
Camila
www.mamaetaocupada.blogspot.com

Fatima disse...

O que mais me impressionou nesse documentário não foi a mãe que alugou a barriga da outra mas a forma como tudo foi feito. A sensação é de você entrar em uma fábrica e poder escolher como você vai querer o seu próximo sapato e voltar somente quanto ele estiver pronto. Você não acompanha a gestação. E se por um acaso o "sapato" não ficar do seu agrado? E se nesse período você se separa ou seu marido morre, o que você faz? Já que você não tem nenhum apego aquele nenem, não somente por não ter sido você que o gerou mas também por você não ter estado ao lado daquela pseudo mãe, cuidando para que o seu filhinho seja bem tratado.
Diferente quando você resolve adotar. Você conhece a criança e ela lhe cativa e assim você a leva já sabendo como ela é.
Com certeza umas dessas mães que alugam sua barriga são comerciantes, mas a grande maioria é mesmo por necessidade.

Beta disse...

Maternidade é muito mais que herança genética...
Se não podem ou não querem gestar acho sem sentido "alugar" um útero, se aproveitando da situação de extrema dificuldade de outras mulheres.
Isso chega a ser profano, no mau sentido da palavra.
Fico pensando, pq essas famílias não adotam uma criança?
Triste, muito triste.

Anônimo disse...

gente, e isso tudo só pra não adotar??
a boa e velha egotrip, né não?
ótimo texto, gabi.
bjs!

Tati Bonotto Cake Designer disse...

Adorei seu blog.
Estou passando para divulgar meu blog.

Passe por lá...será mega prazer ter sua companhia.
bjs carinhoso.

www.tatidesignercake.blogspot.com